Os últimos meses têm sido agitados no escritório do fundo de investimento americano Advent, em São Paulo. Ali, 17 profissionais dedicam-se a avaliar empresas de setores como tecnologia da informação, indústria farmacêutica, serviços de saúde e educação superior.
Um dos resultados mais recentes dessa garimpagem apareceu no fim do ano passado, quando o fundo comprou o controle da Allied, distribuidora paulista de celulares, smartphones e tablets. Outro exemplo foi a aquisição, em março deste ano, da Faculdade da Serra Gaúcha, instituição de ensino superior com sede em Caxias do Sul.
Não que antes faltassem boas oportunidades no Brasil — mas, até pouco tempo atrás, as empresas daqui estavam caras. “Em 2010, quando ficou claro que o Brasil estava valorizado demais, voltamos a atenção para a Colômbia e o México, enquanto vendíamos participações aqui”, diz Patrice Etlin, sócio do Advent no Brasil. “Agora o Brasil voltou a ser prioridade.”
[caption id="attachment_347" align="alignleft" width="300"] Fusões e aquisições no Brasil[/caption]Nos últimos anos, apenas metade dos investimentos feitos pelo fundo no mercado latino-americano ficava no Brasil — segundo Etlin, essa participação deve voltar à casa de 70%, parcela que era destinada ao país até 2010.
O Brasil ficou, de fato, barato para os investidores estrangeiros. Esse é um dos preços a pagar pelo fracasso da política econômica adotada pela presidente Dilma Rousseff durante o primeiro mandato — e o consequente enfraquecimento do mercado brasileiro. Nos últimos 12 meses, o real perdeu quase 40% do valor em relação ao dólar, segundo cálculos do banco Itaú. O valor das companhias de capital aberto listadas na Bovespa, em dólar, caiu cerca de 30% desde junho de 2014, de acordo com a consultoria Economatica.
Nesse cenário, as operações de fusão e aquisição de empresas têm avançado. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, as fusões e aquisições, as ofertas públicas de aquisições de ações e as reestruturações societárias chegaram a 193 bilhões de reais no ano passado, 10% mais do que em 2013. Boa parte desses negócios teve a participação de investidores de fora do país.
Um estudo da consultoria PwC mostra que 51% do capital aplicado nas operações de compra de participações de empresas no primeiro trimestre de 2015 tinha origem estrangeira — desde 2005 a participação não era tão grande. “A presença de grupos internacionais tende a aumentar no segundo semestre”, diz Rogério Gollo, sócio da PwC no Brasil. “No começo do ano, muitos investidores ainda não tinham clareza sobre o que podia acontecer no Brasil, mas agora os riscos e as oportunidades estão mais claros.”
Dinheiro não falta. Um levantamento feito pela consultoria KPMG e pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital mostra que um conjunto de 65 gestores de fundos de investimento começou 2015 com 12 bilhões de dólares para investir no país, 35% mais do que estava disponível um ano antes. Com 2,1 bilhões de dólares nos cofres, o Advent administra o maior desses fundos.
Além disso, outros grandes investidores estrangeiros estão aumentando sua presença no país. O fundo de pensão canadense Canada Pension Plan e o fundo soberano de Singapura abriram recentemente escritórios no Brasil. O mercado também atrai empresas multinacionais em busca de negócios.
Um exemplo é o do gigante chinês de internet Baidu, uma espécie de Google da China, que em 2014 comprou o site carioca de compras coletivas Peixe Urbano. “Crises são cíclicas e estamos nos posicionando para aproveitar a próxima onda de crescimento do Brasil”, afirma Kaiser Kuo, diretor de comunicação internacional do Baidu.
Muitas empresas brasileiras estão com a corda no pescoço, o que facilita a vida dos investidores nas negociações. Em alguns setores, como o de açúcar e etanol, a situação é mais grave: a dívida das usinas, que representava 3,3 vezes o resultado operacional em 2011, chegou a 3,7 vezes no ano passado.
O endividamento de todas as empresas listadas na Bovespa aumentou quase 25% de março do ano passado a março de 2015, segundo a Economatica. O crédito, porém, anda caro e escasso.
“Os bancos estão mais conservadores nas concessões de financiamento”, afirma Alfredo Pinto, sócio da consultoria Bain & Company em São Paulo. “A crise põe pressão no custo da dívida e faz as empresas diminuir os investimentos.” Enquanto o Brasil não resolver a crise, as oportunidades para os investidores devem continuar a aumentar.
Via Exame